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Produtores rurais mineiros são imbatíveis da porteira para dentro

14 de Dezembro de 2018

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As diversas dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil, reveladas no decorrer de 2018, foram recebidas pelo agronegócio mineiro como mais uma prova da solidez do setor, maior produtor de café, leite e equinos do País. Fatos inesperados – como a greve dos caminhoneiros e suas consequências para o produtor rural e a população – e percalços antigos – políticas inadequadas, falta de infraestrutura e de reconhecimento da importância do setor – abalaram, mas não quebraram a resiliência deste segmento fundamental para a economia.

O presidente do Sistema Faemg, Roberto Simões, avalia 2018 como um ano sem grandes mudanças. Se houve perdas, também houve ligeiro aumento na produção, contrabalançando a situação. A grandeza, ou a galhardia do setor, nas palavras de Simões, foi maior do que os desafios. Para o próximo ano, um apelo aos novos governos para que olhem para o agronegócio com mais atenção. Menos burocracia, mais simplicidade nas ações e nas medidas relacionadas ao setor e, acima de tudo, investimentos, que façam o País retomar a rota de crescimento, fazem parte do pleito do Sistema Faemg na defesa dos produtores rurais.

 

Que avaliação o senhor faz do setor agropecuário mineiro em 2018?

Do ponto de vista do agronegócio mineiro, apesar de todas as situações, não houve mudanças significativas. Tivemos algumas variações mas o setor contribuiu bem para o desenvolvimento, sem grandes traumas. Porém houve fatores negativos que prejudicaram, além do próprio setor, muito mais o produtor rural, que é a peça final dessa cadeia. Tivemos uma parada de caminhoneiros, que trouxe perdas significativas para produtores de leite e de aves, por exemplo. Depois veio o tabelamento do frete, medida absolutamente fora de propósito, o aumento altíssimo do custo do frete, o aumento da energia elétrica, quero dizer, isso tudo resulta em alteração de custos para o produtor. Tivemos o episódio de proibição do uso de determinados insumos. Podemos dizer que ocorreram algumas quedas ligeiras e outros aumentos, contrabalançando a questão. Assim, tivemos uma certa galhardia na produção, apesar de tantos fatores negativos.

De forma geral, como foi o desempenho e que produtos o senhor destacaria?

Por exemplo, nos grãos nós teremos uma queda neste ano ao redor de 5%. É significativo, mas nem tanto. O grande aumento foi da safra de café, neste ano de safra cheia, e Minas Gerais deve chegar a 32 milhões de sacas, um aumento expressivo em relação ao ano anterior e que nos coloca com 53% da produção nacional. O destaque, como terceiro colocado nacional, é a cana-de-açúcar, que teve ligeiro aumento, com produção muito boa também de etanol. Nos bovinos, somos o terceiro no rebanho brasileiro geral, com 22 milhões de cabeças, e o primeiro em vacas ordenhadas. Neste caso, tivemos aumento na produtividade. Suínos e frangos sofreram queda, especialmente pelo episódio dos caminhoneiros. Já na exportação de produtos florestais, especificamente com a pasta de celulose, também tivemos um avanço muito bom.

 

De positivo para o produtor associado, o que o senhor destacaria?

Alguns pontos foram favoráveis como os juros razoáveis no plano de safra, que baixaram para 6,5% na média, embora continuemos com a baixa destinação para seguros. Destaco também o papel do Sistema Faemg, sempre pronto para defender o produtor e os seus interesses. Só no ano passado envolvemos mais de 200 mil pessoas nos concursos e treinamentos pelo Senar Minas. Agora estamos entrando também na assistência técnica para levar a aplicação da tecnologia para as pessoas.

 

E o que o Sistema Faemg espera para 2019?

Para 2019 há uma grande expectativa. Teremos novos governos, simbolizando uma verdadeira e profunda mudança realizada nas eleições. Acho que pouca gente esperava uma mudança tão forte, principalmente a que ocorreu em relação ao governo do Estado de Minas Gerais. Espera-se, então, uma nova era na política brasileira, com uma condução diferenciada, mais liberal do que até hoje vínhamos vivendo.

 

O senhor considera acertadas as escolhas dos nomes dos ministros, especialmente os que estão diretamente relacionados ao setor de agronegócio?

Do ponto de vista do governo federal parece que as escolhas dos ministérios estão bem- feitas, dentro do que seria possível imaginar. Quanto às indicações para o Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente – que nos afeta muito também – estão absolutamente de acordo. A escolha para o Meio Ambiente nos traz um pouco de desconhecimento, mas pelo trabalho que foi realizado pelo escolhido (Ricardo de Aquino Salles) em São Paulo, esperamos para Minas Gerais uma situação ambiental mais simplificada como acontece em São Paulo. Então, de um modo geral, a expectativa é positiva em relação às ações do governo federal e à nova equipe econômica.

 

Falando do novo governo de Minas, qual é a expectativa?

Do ponto de vista estadual prevalece uma expectativa enorme e ainda um certo desconhecimento da questão. Até hoje não temos nenhuma indicação dos secretários da nossa área. Sabemos da péssima condição em que se encontram as finanças em Minas. Talvez seja hoje o Estado em pior situação no Brasil.

 

Que demandas do setor o Sistema Faemg quer ver atendidas pelo governo do Estado?

Esperamos que o primeiro momento seja de liberação e de desburocratização, sem prejuízo no cumprimento daquilo que é necessário, do ponto de vista da sustentabilidade e da economia. E isso não gasta dinheiro. Precisamos abrir Minas Gerais, pois continuamos como um dos estados mais complicados, perdendo empresas que não suportam os nossos atrasos em burocracia e em licenças ambientais. O agronegócio mineiro continua sendo eficiente e imbatível da porteira para dentro. Quando olhamos para fora, começam as dificuldades. Portanto, num segundo momento, se for possível, necessitamos, desesperadamente, de desenvolvimento, investimentos e projetos. Temos carências históricas de infraestrutura, ferrovias, portos, enfim. É isso que o governo tem que melhorar. É bom lembrar que a produção brasileira até 2030/2035 tem que crescer no mínimo 40% para atender aos 9 bilhões de habitantes esperados para o mundo. O Estado tem em mãos grandes oportunidades de fomentar um dos setores mais competitivos que existem.

 

Como a tecnologia tem contribuído no desenvolvimento do setor e quais os resultados já contabilizados?

Avançar na modernização e inovação é tudo o que o Sistema Faemg busca e direciona em todos os seus treinamentos. Sejam as capacitações do Senar Minas – todas gratuitas para os produtores -, sejam em outros treinamentos em gestão dos negócios ou em qualidade, estamos sempre incentivando as empresas ou os ruralistas para agregarem valor aos seus negócios. Isso no café é um exemplo extremamente forte. Estamos propugnando sempre por cafés especiais. A produção já entendeu isso e já adotou a indicação de origem, com classificação internacional adequada dos produtos. É um caminho claríssimo a ser seguido e a ­Faemg estimula isso fortemente em programas como o “Café + Forte”. Da mesma forma, temos um amplo programa do leite, o “Balde Cheio”. Contabilizamos exemplos espetaculares de produtores pequenos que conseguem aumentar significativamente a produção e a receita sem grandes investimentos, apenas com uma gestão melhor, com a recombinação dos fatores que eles próprios possuem. Esse tem sido o nosso caminho também com as startups, as agritechs do nosso Estado, por meio do Agro 4.0 e de seu apoio a programas, como o  de aceleração de startups, o Lemonade.

 

O senhor considera o agronegócio pouco entendido e pouco valorizado pelos governos e pela sociedade?

Sem dúvida, e é por isso que o Sistema Faemg tem feito campanhas anuais procurando mostrar quais são as excelências e especificidades dos produtos agropecuários de Minas Gerais. Ocupamos o primeiro lugar nacional em café, em leite e derivados, em florestas plantadas, na produção de equinos – com 850 mil cabeças – além de possuirmos o terceiro rebanho bovino nacional. Nosso setor é um dos mais diversificados do Brasil e por isso mesmo um dos mais sólidos, menos sujeitos a riscos.

 

Como o Sistema Faemg está se reinventando com o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical?

O impacto da mudança e da queda da arrecadação é muito grande. Por isso estamos em um momento de profunda transformação interna, nos reorganizando, promovendo uma interação entre as três casas – Faemg, Senar Minas e Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes) – para criar este novo sistema mais dinâmico. Estamos formatando novos produtos que beneficiem os associados e que sejam também uma fonte de receita para a federação, sem a qual não conseguiremos sobreviver. Acredito que fundaremos um sistema melhor do que o anterior, conforme exige o mundo moderno. Nós vamos trabalhar com quem quer trabalhar, com quem quer criar, com quem quer inovar.

 

O senhor pode exemplificar o que será feito?

Estamos trabalhando programas de seguro, plano de saúde, cartão para compras virtuais e compras conjuntas, com as quais provavelmente começaremos a trabalhar no ano que vem. Tudo isso visando também rendimentos para o Sistema Faemg e seus sindicatos, como uma forma de sobrevivência. Entendemos que são ações fortes e corajosas que precisamos tomar para promovermos uma mudança de paradigma e reorientarmos nossos rumos.

 

Como o sistema Faemg vê o papel da mulher empreendedora no agronegócio?

É surpreendente ver o número de mulheres participando de empreendimentos de agronegócio no interior. São mulheres com alta capacidade de gestão em produção e tecnologia. A presença delas é extremamente benéfica e muito bem-vinda. Neste ano houve uma primeira reunião das chamadas empreendedoras do agro, promovida pelo Sistema Faemg. Aliás, o trabalho do Senar contempla não apenas as mulheres, mas os jovens e reúne toda a família, por meio de um programa de sucessão rural, que visa aos futuros e atuais detentores do negócio.

 

O que é mais animador no cenário do País para 2019?

O aspecto da mudança política e de novas ideias que estão por vir é o que mais me anima. Nós somos tradicionalmente mais liberais, propugnamos por um Estado que interfira o menos possível. Não se trata de ser um Estado maior, nem menor, mas necessário. O Estado não precisa ser empresário. Apenas tem que ter o que é peculiar e o resto deixa com a empresa privada. Esperamos que reformas – prometidas há muitos anos e que ninguém teve coragem de fazer – sejam feitas. Só esperamos que a reforma trabalhista seja completa, pois não foi feita para o meio rural. Esperamos também pelas reformas política e da Previdência.

 

E o que considera mais desafiador?

O que se teme é exatamente a novidade. As pessoas não são, até certo ponto, os tradicionais conhecedores da vida pública. O presidente eleito Jair Bolsonaro foi deputado por longos anos, mas a caneta na mão do executivo é um negócio diferente. A questão pública é extremamente diferente, envolve muita participação, muita negociação. Nós tememos se estas novas pessoas terão a capacidade de fazer o que será necessário, principalmente para solucionar as dificuldades econômicas nas quais todos se encontram. É de se esperar que estes governos sejam extremamente capazes de dialogar com os parlamentos evidentemente sem o “toma lá dá cá” tradicional. A conversa agora precisa ser outra. É em torno do bem da nação e de todos nós.

 

O senhor acredita em melhorias nos números para o agronegócio mineiro?

É difícil prever qualquer coisa nessa nossa situação atual. O agricultor já deu demonstrações de que é um otimista, não perde a esperança. Nós já passamos por momentos piores e a produção continuou crescendo. Existem números mostrando esse crescimento a cada ano. Essa é a grande vocação brasileira e mineira. O agronegócio tem tido um dos maiores desempenhos e é o futuro do País. É preciso contemplar o setor para não perdermos este protagonismo.

Diário do Comércio – 14/12/18

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