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Rebeldes bloqueiam exportações de petróleo da Líbia

20 de Janeiro de 2020

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O maior campo de petróleo da Líbia começou a interromper a produção ontem, após forças do general rebelde Khalifa Haftar terem fechado um oleoduto. A suspensão ofuscou a reunião de líderes mundiais em Berlim destinada a intermediar um fim à guerra civil no país, membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

A produção de petróleo da Líbia ficará limitada a 72 mil barris/dia quando seus tanques de armazenagem estiverem cheios, de acordo com um porta-voz da Corporação Nacional de Petróleo líbia. O volume é muito inferior ao 1,2 milhão de b/d computado no sábado, e representa o patamar mais baixo desde agosto de 2011, segundo dados da Bloomberg.

O restante da produção virá de campos offshore e de Wafa. O de Sharara, que tem capacidade de extrair 300 mil b/d, deixará de produzir assim que seus tanques estiverem cheios, disse uma pessoa familiarizada com a situação.

A interrupção na na produção teve início quando forças aliadas a Haftar bloquearam as exportações nos portos sob seu controle, segundo comunicado divulgado no sábado pela estatal National Oil Corp (NOC). A empresa declarou “força maior”, o que pode permitir que a Líbia - que abriga as maiores reservas comprovadas de petróleo da África - suspenda legalmente os contratos de entrega.

“Esta é uma desestabilização de ordem política”, disse Edward Bell, diretor de pesquisa em commodities do banco Emirates NBD PJSC, sediado em Dubai. “Pode haver uma reviravolta bastante rápida se houver uma solução política.”

Ontem à noite, os contratos futuros de petróleo subiam mais de 1,5% em Nova York e Londres, em reação as notícias da Líbia e a também à paralisação da produção num campo no Iraque.

Apesar da reação imediata de alta, o impacto nos preços do petróleo não deverá ser tão grande quanto o observado após os atentados de 14 de setembro a instalações petrolíferas da Arábia Saudita, avalia Bell. A Líbia tem uma produção menor e suas dificuldades são mais restritas do que as enfrentadas na crise saudita, que ameaçou escalar para a condição de uma guerra regional, explicou.

A demonstração de força de Haftar ocorreu num momento em que ele se preparava para participar da conferência internacional promovida pela premiê da Alemanha, Angela Merkel, que reuniu líderes de 11 países em Berlim.

Haftar, cujas forças estão se concentrando nos bairros da periferia sul da capital, Trípoli, rejeitou até agora os esforços destinados a pôr fim à sua ofensiva e a aceitar um acordo com base em concessões mútuas.

Ao fechar os campos de petróleo, Haftar nega acesso a uma fonte fundamental de receita ao governo do premiê Fayez al-Sarraj, internacionalmente reconhecido. Os recursos da produção de petróleo vão para o banco central do país, e constituem o dinheiro de que o governo de Trípoli dispõe para comprar armas para sua defesa.

Em Berlim, nem Sarraj nem Haftar estavam presentes na sala de reunião da cúpula de paz que reuniu líderes de potências mundiais e outros países com interesses na Líbia. Os organizadores tiveram o cuidado de garantir que eles não se cruzassem. Os dois passaram o dia em hotéis separados da cidade.

Ao fim do encontro, Merkel anunciou que os líderes mundiais — incluindo Vladimir Putin (Rússia), Recep Tayyip Erdogan (Turquia), Emmanuel Macron (França) e Abdel Fattah al-Sisi (Egito) — concordaram em trabalhar para alcançar um acordo de cessar-fogo mais duradouro na guerra civil da Líbia.

Segundo a premiê alemã, os dois grupo rivais líbios concordaram em indicar, cada um, cinco representantes para formarem uma comissão especial que irá monitorar a trégua estabelecida na semana passada. Ao mesmo tempo, as potências globais envolvidas na Líbia se comprometeram a cumprir o embargo de armas existentes estabelecido pela ONU.

“Todo mundo concordou que precisamos de uma solução política ”, disse Merkel. “Sabemos que não resolvemos todos os problemas da Líbia, mas estamos buscando por um novo impulso.”

Haftar, cujo auto-denominado Exército Nacional da Líbia (LNA) está atacando a capital, Trípoli, com o apoio do Egito e dos Emirados Árabes Unidos (EAU). Mercenários russos também dão apoio às suas forças.

A Turquia, por sua vez, enviou tropas para Trípoli, bem como combatentes turcos da Síria, para ajudar o governo do premiê, Fayez al-Serraj, a resistir ao ataque de Haftar.

Embora tenha havido uma pausa nos ataques aéreos e menos combates nos últimos dez dias, fortes trocas de tiros de artilharia podiam ser ouvidas ontem em algumas linhas de frente ao sul de Trípoli, disseram os moradores à Reuters.

 

Fonte:  Valor Econômico 20-01

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