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Risco de destravamento da cana pelas chuvas está chegando perto do limite para a safra 21/22

18 de Setembro de 2020

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Como a cana do fim desta safra, a cana do ano que vem está sofrendo com a seca e, nas últimas semanas, altas temperaturas. O desenvolvimento está travado de uma maneira geral na maioria das regiões produtoras do Sudeste, sob ameaça suplementar das pragas, e a contagem regressiva para a reversão começa a rodar a partir do começo de outubro

Cultura resistente, que deslancha rápida dependendo de chuvas regulares de primavera-verão e dias mais longos de insolação, tem boa capacidade de recuperação fisiológica, mas está no limite. Desse modo, condições claras da safra 21/22 são interrogações, ainda levando em conta as diferenças de solos e os períodos de plantio e cortes em 2020.

No entorno de Lençóis Paulista, no centro de São Paulo, cana nova, plantada na renovação em fevereiro/março, não passa da altura do joelho, com desenvolvimento visivelmente abaixo do perfil normal, segundo Luiz Carlos Dalben, da Ascana, entidade cujos associados detêm em torno de 120 mil hectares.
Quanto aos canaviais mais antigos, a situação só não é pior porque não houve morte das soqueiras. Umas poucas chuvas de 40 mm em agosto as salvaram, o que mostra o poder de recuperação da cana de açúcar.

Sérgio Gustavo Castro, pesquisador e produtor no grupo familiar AgroQuatro-S, com propriedade perto de Ribeirão Preto, também concorda com as condições gerais expressadas acima, acentuando também os riscos maiores para as lavouras plantadas este ano. "Sentindo o travamento do desenvolvimento, apresentando mais folhas secas que verdes, e com bastante comprometimento futuro", explica.

Em outros cenários, a cana cortada no início da safra ainda consegue passar a seca atual, mas as condições fisiológicas da planta colhida em julho e agosto também carrega um bom potencial de prejuízo pela dificuldade de brotação, a menos que as chuvas venham em boas condições de outubro em diante, explica Castro.

Mas como o tipo de solo também influencia, Luís Henrique Scabello, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Araraquara (Canasol), lembra que nos solos argilosos a brota da cana já cortada está mais comprometida. Nos solos mais leves, arenosos, o produtor acredita em perfil normalizado.

Todos igualmente destacam o ataque de pragas, sobretudo da lagarta elasmo. Até que as precipitações não cheguem, elas vão comendo o "coração" da planta germinada.

Scabello chama a atenção para o risco de diminuição dos stands (quantidade de cana por m2) se o quadro climático não for revertido o quanto antes.

Mato-competição

O consultor Anibal de Almeida Prado, de Jaú, explica ainda que em incêndios em canaviais de cana colhida torna o ataque da lagarta mais severo.

E pontua outa ameaça, a do mato-competição: "Isso vai exigir uma atenção especial no que se refere ao controle de mato, pois o residual dos herbicidas deve terminar com lavoura ainda sem devido fechamento de entrelinhas", traduz.

Pelos lados do Oeste paulista, na região de Valparaíso, o presidente da AFCOP, Apolinário Pereira da Silva Jr., ainda não notou estragos significativos, apesar de ser uma região mais quente.

Como de outubro a março é o período no qual a cana ganha massa vegetal, de 70 a 75%, recorda Almeida Prado, onde as condições gerais não estão tão complicadas, como no caso observado por Pereira da Silva, o temor de prejuízos mais marcantes em produtividade e produção é mais dissipado.

No Triângulo Mineiro, os associados da CanaCampo, englobando 62 mil hectares e renovação de canaviais da ordem de 12 a 13% por safra, mas nesta um pouco menos, "se a gente olhar no visual, a gente vê um certo sofrimento, mas as chuvas retornando, normalmente, a cana vai embora e vai cumprir seu ciclo", afirma Rodrigo Piau, coordenador agronômico da entidade.

"Por isso, projetar algo para a safra que vem em função deste período, que é caracterizado por poucas chuvas mesmo, é muito prematuro", complementa Ricardo Pinto, CEO da RPA Consultoria.

E a socaria, cana do segundo corte para cima, atravessa dificuldades com a baixa umidade, especialmente a colhida entre abril e maio, que poderia estar com dois ou três colmos, ou até 70 centímetros (independente da população de colmos), porque a falta de umidade do solo não ajuda na adubação. Dalben acredita que alguma produtividade vai ser comprometida, mesmo com as águas aparecendo.

Soqueiras resistiram

Na região de Jaú, o engenheiro agrônomo da Associana, Denilson Vitti, onde os 40 mil hectares dos produtores estão com apenas 734 mm de chuvas em 2020, acredita que alguma cana-planta (nova) acabará tendo que ser replantada, o que acarreta custos adicionais. A região apresenta 10% de renovação na safra atual.

  

Fonte: Money Times – 17/09

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