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Saída do Acordo de Paris reduziria aportes ao setor

22 de Outubro de 2018

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Uma eventual saída do Brasil do Acordo de Paris, conforme já defendido pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), poderá prejudicar a cadeia do cacau no país, que tem apostado no sistema agroflorestal para expandir a produção nacional, ainda insuficiente para abastecer a demanda interna por chocolate.

O alerta é dado pela Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). "Para nós, é ruim. É pior fora [do Acordo] do que dentro", diz Eduardo Bastos, diretor executivo da AIPC, ao Valor.

Em setembro, Bolsonaro disse que poderia retirar o Brasil do acordo. Ontem, sua equipe sinalizou que ele pode recuar, mas seu conselheiro Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista, criticou o pacto global, afirmando que "se fosse papel higiênico, serviria apenas para limpar a bunda", conforme o jornal "O Estado de S Paulo".

Acompanhar a decisão do presidente americano Donald Trump de sair unilateralmente do acordo costurado em 2015 com 195 países pode significar o afugentamento de investimentos externos para fomentar a produção agroecológica com foco em captura de carbono. Segundo Bastos, a maior parte dos recursos potenciais para financiar a expansão da cultura estão vinculados às externalidades positivas para o ambiente. "Podemos perder a possibilidade de capturar muito recurso novo lá fora".

A indústria de cacau e chocolates tem realizado planos e ações para incentivar a produção nacional da amêndoa para reduzir a dependência de importações. Recentemente, o setor protocolou no BNDES pedido de financiamento de R$ 40 milhões, via Fundo Amazônia, para restaurar 3 mil hectares de pastagens degradadas com o plantio de árvores de cacau em Novo Repartimento, no Pará. Estima-se que esse restauro deve implicar na captura de 113,7 toneladas de CO2 em quatro anos.

Para acessar recursos desse fundo, os projetos precisam comprovar que contribuem com a redução das emissões de gases-estufa através da captura de carbono. E atualmente, o maior financiador do Fundo Amazônia é governo da Noruega, que condiciona a liberação de recursos à manutenção dos países no acordo do clima de 2015.

Há mais projetos semelhantes para serem apresentados. A indústria está elaborando mais um plano para capturar financiamento que deve envolver a recuperação de uma área de pastagem degradada de 100 mil hectares, também no Pará, para plantar árvores de cacau. O projeto ainda está em fase inicial de elaboração, mas pode turbinar o avanço da cacauicultura no bioma amazônico, segundo Bastos. "Se recuperar três mil hectares custa R$ 40 milhões, imagina um projeto para 100 mil hectares. Nenhum setor tem esse recurso para colocar diretamente. Precisa desses parceiros internacionais".

Apesar do alerta, Bastos afirma apostar no diálogo com as duas candidaturas à Presidência para garantir a manutenção do Brasil no Acordo de Paris. Ele enviou carta a Jacques Wagner (PT) e pediu um encontro com Onyx Lorenzoni (DEM-RS), possível ministro da Casa Civil num eventual governo de Bolsonaro, para debater o assunto.

Além disso, na quinta-feira, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne entidades ambientais e do agronegócio, publicou uma carta aberta aos candidatos Fernando Haddad e Jair Bolsonaro defendendo a permanência no Acordo de Paris.

Valor Econômico – 22/10/18

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