Notícias

Startups desenvolvem tecnologia para atender futura demanda pelo hidrogênio combustível

28 de Março de 2019

Notícias

Ao lado da energia elétrica de origem renovável, o hidrogênio tem sido apontado como uma das grandes promessas para abastecer os veículos do futuro em substituição aos combustíveis fósseis. Um dos pontapés para a promoção do hidrogênio como combustível foi a criação do Conselho Mundial do Hidrogênio, durante o Fórum Econômico Mundial de 2017. Formado por 13 membros, a maioria do setor automotivo e de combustíveis – como Toyota, Honda, BMW, Total, Bosch e Air Liquide, entre outras companhias– o grupo assumiu o compromisso de aportar US$ 1,5 bilhão por ano em investimentos em pesquisas envolvendo aplicações do hidrogênio.

Enquanto as grandes companhias globais se aprumam para construir protótipos de veículos e estruturar sistemas de abastecimento, startups brasileiras estão desenvolvendo rotas tecnológicas para produzir hidrogênio combustível com recursos que são abundantes no país, tais como etanol de cana de açúcar e outros tipos de biomassa. A ideia é ter as tecnologias prontas para quando a demanda real chegar.

Com sede em Sumaré (SP), a Hytron foi fundada em 2003 como uma spin-off do Laboratório de Hidrogênio da UNICAMP e tem como negócio a produção de hidrogênio para aplicações industriais, energéticas e automotivas. A empresa desenvolveu o primeiro reformador de etanol do Brasil, um equipamento com tecnologia 100% nacional que permite a produção do hidrogênio a partir do etanol de cana de açúcar com alto grau de pureza, que pode ser utilizado tanto para uso pela indústria (alimentícia, metalurgia, vidro) quanto para combustível.

Os reformadores produzidos pela startup produzem o hidrogênio com 99,999% de pureza e têm capacidade para atender demandas de até 240 mil metros cúbicos/mês, de acordo com Daniel Lopes, diretor comercial da Hytron. “A principal inovação está em entrar com um combustível 100% renovável, que é o etanol, e sair com um hidrogênio ultrapuro, que pode ser utilizado em qualquer aplicação”, diz Lopes.

O equipamento experimental está pronto para ser instalado pelos primeiros clientes industriais e, na área de combustível, a empresa negocia com montadoras e distribuidoras para formatar o primeiro posto de abastecimento de hidrogênio produzido a partir do etanol. Os sistemas desenvolvidos pela Hytron também permitem a produção de hidrogênio a partir do gás natural, biogás, glicerol e por eletrólise de água. Desde o início das atividades, a startup já captou R$ 40 milhões em projetos de P&D da Fapesp, CNPq e Aneel.

A startup começou a desenvolver uma tecnologia que produz querosene sintético para uso na aviação utilizando como insumo apenas hidrogênio, água e gás carbônico captado da atmosfera. O projeto, inédito, é uma cooperação entre os governos da Alemanha e do Brasil, com apoio da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O plano é desenvolver sistemas para produção descentralizada de até 500 litros/dia de querosene sintético de aviação para uso em áreas remotas. “Estas tecnologias vão contribuir para que a inserção do Brasil na economia do hidrogênio, já que têm como pano de fundo a descarbonização e a sustentabilidade”, diz Lopes.

Outra startup que está trilhando o caminho do hidrogênio é a Ergostech, de Campinas (SP). Fundada em 2004 por meio de uma parceria com a cervejaria japonesa Sapporo, o plano era viabilizar a produção de bioenergia a partir dos resíduos da produção de cerveja, mas o escopo foi ampliado.

Após receber um aporte da Petrobras em 2010, a Ergostech passou a desenvolver soluções em biotecnologia para produzir hidrogênio, biogás e outros produtos a partir de resíduos agroindustriais. Como o mercado para o hidrogênio ainda é incerto no Brasil, a startup voltou-se para o mercado americano: está construindo uma fábrica em Fresno, na Califórnia, que deverá entrar em operação em 2021. Vai produzir hidrogênio a partir de biomassa, com resíduos agrícolas e das indústrias alimentícias locais.

Para 2022, a startup já está fechando parcerias com distribuidoras de combustíveis da região para montar quatro postos de abastecimento de hidrogênio combustível. O foco são veículos pesados. “São os caminhões e ônibus que vão viabilizar a economia do hidrogênio, já que eles demandam de 60 a 80 kg do combustível para encher o tanque, enquanto um carro de passeio utiliza apenas 4 kg de hidrogênio”, afirma Yumi Watari, sócia diretora da Ergostech.

Alguns países vêm tomando a dianteira nas pesquisas com hidrogênio, como EUA, Japão e Alemanha. Apesar do otimismo dos startups, ainda é cedo para mensurar o quanto a chamada economia do hidrogênio poderia beneficiar o Brasil. “Estimativas atuais colocam o custo de produção de hidrogênio a partir de energia limpa em torno do mesmo preço que a produção de gás natural até o final da década de 2020. Mas os mercados que vão consumir esse hidrogênio ainda são imaturos”, diz Kobad Bhavnagri, especialista em projetos especiais da BloombergNEF, consultoria de energia renovável do grupo Bloomberg.

Valor Econômico - 28/03/2019

Veja também