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Toyota estreia em elétricos puros com modelos inclusivos

23 de Outubro de 2019

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No ano passado, 918,3 mil bebês japoneses vieram ao mundo, a menor taxa de nascimentos no país desde que esse dado começou a ser registrado, em 1899, segundo o Ministério da Saúde. Num dos países onde a população mais encolhe e envelhece, os idosos começam a alterar conceitos de transporte. A Toyota decidiu aproveitar essa tendência em seu país de origem e fazer a sua estreia no mercado de veículos 100% elétricos com uma linha que inclui modelos para os que não têm ou perderam a capacidade de mover-se.

A Toyota foi uma das primeiras a apostar na eletrificação dos veículos, com o lançamento de um híbrido, o Prius, em 1997. Mas é a última, entre as grandes montadoras, a entrar no segmento dos carros puramente elétricos, que precisam de tomada para carregar as baterias. Sua estratégia nesse mercado será, no entanto, diferente.

Dos cinco modelos apresentados à imprensa mundial, ontem, em Tóquio, apenas um é carro de verdade. Os demais são soluções de mobilidade individual que incluem uma “scooter” coberta, um modelo tipo patinete no qual o condutor vai em pé, outro com assento e um exclusivo para cadeirantes que funciona acoplado à cadeira de rodas. Segundo Akihiro Yanaka, engenheiro chefe da linha de elétricos ultracompactos, a linha de veículos 100% elétricos se volta principalmente à população idosa e com mobilidade reduzida, mas também à necessidade de transporte simples e rápido em centros urbanos congestionados.

Tóquio foi, ontem, uma exceção nesse cenário imaginado pela Toyota. Com feriado decretado em razão do entronamento do imperador Naruhito, as ruas da capital japonesa estavam vazias. A menos de dez quilômetros do Palácio Imperial, o local da cerimônia, a Toyota exibiu seus ultracompactos e microveículos elétricos como umas das soluções para a redução do efeito estufa, um mantra que tem sido repetido por toda a indústria automobilística. Não fosse a chuva forte e previsões de novo tufão, até os patinetes teriam sido testados ao ar livre.

A direção da Toyota sabe que é vista por alguns como “atrasada” por não ter ainda lançado carros 100% elétricos e sempre mostrou não ter pelos veículos que precisam de tomada para carregar as baterias o mesmo entusiasmo com que sempre defendeu os híbridos - cujos motores elétricos são acionados por outro a combustão. Há menos de um mês, a montadora começou a produzir no Brasil uma versão do sedã Corolla que representa o primeiro híbrido do mundo que pode ser abastecido com etanol.

Executivos e engenheiros da montadora passaram boa tarde do dia, ontem, tentando mostrar que a opção, até agora, pelo híbrido não representa uma dificuldade tecnológica, mais uma análise de mercado. Yanaka mostrou, com gráficos, mercados onde elétricos são vendidos às custas de incentivos. “A questão é saber como sair da fase em que se produz carros elétricos e começar a fazer o cliente comprar”, destacou, apontando entraves como custos e preços ainda elevados das baterias.

Shigeki Terashi, vice-presidente e chefe mundial da engenharia da Toyota, aproveitou a presença de jornalistas de várias partes do mundo, que estão no Japão para a apresentação do salão do automóvel de Tóquio, para captar impressões sobre a imagem da Toyota no conceito da eletromobilidade.

Ao questionar quantos, na plateia, usam carros elétricos, Terashi comentou que o número dos que ergueram o braço ficou acima do que ele imaginava. Mas chamou ainda mais sua atenção ao questionar quantos gostariam que seu próximo carro fosse elétrico. A quantidade de respostas positivas aumentou significativamente, mesmo levando em conta a parte da plateia vinda de países onde essa realidade está ainda bem distante, como o Brasil.

O primeiro carro Toyota puramente elétrico chega ao mercado japonês no fim de 2020. O chamado BEV tem 2,49 metros de cumprimento. Com dois lugares, é bem menor que compactos como o Fiat 500 e o Volkswagen up!, com 3,54 e 3,60 metros, respectivamente. É menor até que a menor versão do Smart, da Mercedes-Benz (2,69 metros). A altura do assento e o assoalho sem desníveis foram desenhados pensando no consumidor idoso. A velocidade máxima é de 60 quilômetros por hora e a autonomia é de 100 quilômetros com uma carga de bateria completa.

Mas não são apenas os compactos que definirão a estratégia de eletromobilidade da Toyota. De olho, principalmente, no mercado dos Estados Unidos, em 2020 será lançada uma versão do luxuoso Lexus 100% elétrico.

Apesar de ser uma das últimas a entrar no mercado de veículos totalmente elétricos, a Toyota está, porém, entre as que mais apostam no desenvolvimento de carros movidos a célula de hidrogênio. Em 2014, a empresa lançou o luxuoso mirai, que usa essa tecnologia, e no salão de Tóquio exibirá a segunda geração do modelo, com maior capacidade de estocar hidrogênio.

Na tecnologia de células de hidrogênio, sobre a qual ainda pouco se fala no Brasil, esse elemento químico é usado para gerar energia nos carros elétricos, o que elimina a necessidade de carregamento em tomadas. Em relação aos combustíveis fósseis, a grande diferença é que o escapamento do veículo libera apenas água, o que o torna livre de emissões de poluentes.

Uma das maiores preocupações da Toyota, hoje, é aumentar a capacidade das baterias. “Quando os carros estiverem totalmente conectados e automatizados vamos precisar de duas vezes mais energia das baterias”, afirma Terashi. Além disso, diz, “a visão de energia do futuro difere conforme o país”. “E isso depende da velocidade do desenvolvimento da infraestrutura de cada região”.

Fonte:  Valor Econômico – 23/10

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