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Tradings correm para investir em energias renováveis

30 de Setembro de 2020

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Os maiores negociantes de petróleo do mundo estão se apressando para investir bilhões de dólares em projetos de energias renováveis nos próximos cinco anos, enquanto aceleram os preparativos para uma mudança dramática na combinação de formas de energia no mundo.

Marco Dunand, presidente executivo da negociadora de commodities suíça Mercuria, disse que a companhia está investindo US$ 1,5 bilhão em projetos na América do Norte juntamente com parceiros de private equity (fundos de investimentos em participações), enquanto Torbjorn Tornqvist, presidente executivo da Gunvor, disse que pretende empenhar 10% do capital da companhia - centenas de milhões de dólares - nos próximos dois anos.

“Se você quiser existir em dez anos e não planejar estar nas energias renováveis, acho que você terá dificuldades”, disse Dunand no Seminário Global sobre Commodities do “Financial Times”. “Não temos escolha” a não ser cumprir com as metas do Acordo de Paris sobre o clima, disse ele, classificando isso de “o maior desafio do mundo”.

As movimentações ilustram como as companhias “trading” que estão profundamente interligadas ao mercado de petróleo, agora querem ter um papel maior nas energias solar e eólica e no hidrogênio, que deverão atender uma parcela crescente da demanda por energia na próxima década.

“Nos próximos cinco anos devermos ter cerca de 50% de nossos investimentos em energias renováveis”, disse Dunand.

 A Vitol e a Trafigura, duas das quatro maiores companhias trading independentes, as chamadas “Big Four”, também estão interessas em atuar bastante em energias renováveis e outras energias.

Mas as “tradings” ainda assim alertam que não esperam um pico iminente na demanda por petróleo, apesar das projeções de companhias como a BP, de que o consumo está perto de chegar ao ponto máximo, por acreditarem que as economias em desenvolvimento continuarão conduzindo o crescimento ao longo dos próximos dez anos. 

Isso as está levando a buscar uma via dupla em que os principais negócios com petróleo ainda respondem pela grande maioria de suas receitas, mas ao mesmo tempo elas se preparam para uma mudança se o crescimento da demanda titubear.

“Não acredito num futuro de carbono zero; esta é uma meta que não funcionará”, disse Tornqvist, enfatizando que 80% do mix energético mundial baseia-se nos combustíveis fósseis. “Precisamos olhar para um futuro de emissões baixas de carbono, e não emissões zero, porque você almejará algo que é impossível [de se conseguir].”

Russell Hardy, presidente executivo da Vitol, disse que a companhia já tem cerca de 500 megawatts de investimentos em energias renováveis que estão operacionais ou em vias de se tornar, além de “investimentos similares que faremos nos próximos anos”.

No fim de semana, a Trafigura revelou que pretende construir ou comprar 2 gigawatts em projetos de armazenamento de energia solar, eólica e convencional nos próximos anos. Ela espera investir cerca de US$ 2 bilhões até 2025 em parceria com um grande investidor em infraestrutura.

Dunand, da Mercuria, disse que os maiores negociantes de energia, que às vezes são criticados pelos ambientalistas, precisam desempenhar um papel maior em razão do tamanho e da experiência que têm. “Para uma transição energética adequada, acreditamos que você precisa de uma companhia como a nossa, que empenhe capital e know how para ajudar nessa transição”, disse ele.

O interesse crescente das companhias trading nas energias renováveis coincide com o número menor de oportunidades no mercado de petróleo. Embora o primeiro semestre do ano tenha proporcionado lucros excelentes para muitas tradings, com a pandemia provocando oscilações nos preços, com o colapso da demanda, o próximo ano deverá ser menos volátil.

Hardy disse ter apenas “expectativas modestas” para o preço do petróleo no segundo semestre, afirmando que ele poderá “subir um pouco” a partir do patamar atual de quase US$ 40 o barril. Dunand acredita que o preço poderá chegar a US$ 45 o barril até o fim do ano, enquanto Tornqvist acredita que poderá levar “até a metade do ano que vem” para ele chegar nos US$ 50 o barril.

Jeremy Weid, presidente executivo da Trafigura, que também participou do seminário do “FT”, disse que não vê os preços do petróleo subindo significativamente nos próximos seis meses.

Sobre as energias renováveis, ele disse que há uma vontade “interna” na Trafigura de erguer um “terceiro pilar” associado às unidades de petróleo e metais. “Geralmente, há muita competição pelas energias renováveis e os retornos de capital em relação a outros investimentos são menores. Mas estamos confortáveis com esses retornos”, afirmou ele.

 

Fonte:  Valor Econômico – 30/09

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