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União de linhas de financiamento à agricultura sustentável é alternativa

28 de Novembro de 2019

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A mudança do clima pode causar redução de 17% na produtividade global da agropecuária e o Brasil tende a ser um dos países mais afetados. Pesquisadores sugerem que a saída pode ser unir forças de dois planos que já existem, um voltado para a agricultura e o outro para recuperação de florestas, como forma de tornar as colheitas mais resilientes.

A ideia é unir recursos e práticas do Plano ABC (que promove a agricultura de baixo carbono) e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). O Plano ABC é de 2010 e propõe expansão da recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta, sistemas de plantio direto e agroflorestais. É um esforço de reduzir as emissões de gases-estufa na agropecuária.

O Planaveg, por seu turno, procura dar impulso à restauração florestal e sanar o passivo ambiental das propriedades rurais que estão em desacordo com o Código Florestal.

“Se juntarmos agricultura e floresta podemos ter uma grande robustez nesses planos e ajudar a adaptar a agricultura ao aquecimento da temperatura”, diz Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e um dos autores do estudo “Papel dos Planos ABC e Planaveg na adaptação da agricultura e da pecuária às mudanças climáticas”, que será lançado hoje.

A intenção é fazer com que os dois planos ajudem a agropecuária a se adaptar. “As mudanças do clima já estão em curso e é urgente a implantação de medidas de adaptação para lidar com seus impactos negativos”, diz o cientista Carlos Nobre, outro autor do estudo, em nota à imprensa.

“Quem usou tecnologias do Plano ABC não perdeu com a seca, conseguiu manter água no solo e atenuar ondas de calor”, cita Assad. Hoje as tecnologias da agricultura de baixo carbono são utilizadas em 15 milhões de hectares.

“Os dois planos adotam um conjunto de tecnologias capazes de tornar a agricultura mais resiliente e sustentável no curto, médio e longo prazo”, diz Miguel Calmon, diretor de florestas do WRI Brasil, instituto de pesquisa que promove a proteção do ambiente e oportunidades econômicas.

“Se associarmos pasto com soja, milho e árvores, garante-se produção diversificada e integrada. Um boi produzindo neste sistema tem sombra, não sofre com calor, ganha peso. As porcas não abortam, o frango não morre”, ilustra Assad.

Os agentes financeiros estariam interessados em alavancar mais recursos para o Plano ABC, que responde por apenas 1,4% do Plano Safra. Antes havia dificuldades para o agricultor acessar os créditos, processo que podia levar 18 meses, mas que agora está reduzido a três meses. “Os bancos estão interessados porque não se trata apenas de sequestro de carbono, mas de reduzir perdas”, argumenta Assad.

O Planaveg, diz Calmon, tem oito estratégias para promover a recuperação de áreas degradadas em larga escala em todos os biomas. O Brasil financia mais atividades que podem ser predatórias do que ações sustentáveis. Para cada R$ 1,00 que o ABC investe em recuperação de área desmatada, outros financiamentos investem R$ 10,00 para atividades que geram desmatamento, aponta o relatório.

Fonte: Valor Econômico – 28/11/19

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