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União Europeia apresenta nova oferta para etanol e carne do Mercosul

30 de Janeiro de 2018

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A União Europeia (UE) apresentou ontem à noite ao Mercosul nova oferta para entrada de carne bovina e etanol com tarifa de importação menor, visando destravar a barganha final para o acordo de livre comércio birregional, que será o maior da história dos dois blocos.

Foi apurado que o sentimento entre certos negociadores é de que a oferta europeia tem potencial de levar à conclusão do acordo, após 19 anos de negociações.

A oferta para carne bovina passou para cota variando entre 90 mil e 100 mil. A oferta anterior era de 70 mil toneladas. O volume exato era mantido em sigilo em Bruxelas, até que o Mercosul discuta a oferta hoje de manhã na embaixada do Paraguai.

Foi durante o jantar oferecido ontem pelos comissários de Comércio, Cecilia Malmström, e da Agricultura, Phil Hogan, aos ministros de Relações Exteriores do Mercosul que a nova oferta agrícola europeia foi colocada na mesa.

O jantar durou duas horas, no prédio central da Comissão Europeia. O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, apareceu no encontro, ilustrando a importância que os europeus dão à conclusão do acordo até o fim de março.

As ofertas europeias sempre têm condicionalidades. Hogan insistiu à tarde, depois de uma reunião dos ministros europeus de Agricultura, que a barganha final com o Mercosul "não é apenas sobre carne, e temos nossos interesses ofensivos". Hogan deixou claro que, primeiro, há limites na concessão que a UE pode fazer para a entrada de carne bovina. E segundo, há condições.

Embora o Mercosul tenha colocado na mesa uma "oferta final", em dezembro, em Buenos Aires, em Bruxelas a posição europeia é de que ainda há muito a ser negociado. A União Europeia quer ganhar mais acesso do que o Mercosul ofereceu até agora tanto para produtos industriais, incluindo liberalização mais rápida para entrada de seus carros, como também para produtos agrícolas como lácteos, vinhos, bebidas, passando por serviços marítimos, regras de origem e proteção de indicação geográfica.

Além disso, embora o Mercosul tenha reduzido o prazo para liberalizar boa parte dos produtos, de 15 para 10 anos, os europeus continuam destacando a importância de "acordo ambicioso". Diante da resistência demonstrada por vários ministros de Agricultura ao acordo com o Mercosul, o comissário procurou tranquilizá-los, dizendo que a qualidade do acordo será privilegiada em relação à rapidez para concluí-lo.

Ao mesmo tempo, documento da União Europeia diz que as negociações entre os dois blocos estão se aproximando do final do jogo, e podem ser concluídas até março próximo. A avaliação é de que, se não der agora, tudo ficará para 2019, diante do período eleitoral no Brasil.

Segundo a UE, o acordo com o Mercosul tem um valor comercial muito elevado - "três vezes o valor do acordo com o Japão e oito vezes o valor do acordo com o Canadá" , de acordo com a comissária do Comércio do bloco europeu.

Hoje haverá reunião de ministros do Mercosul com comissários da UE durante quase todo o dia, em Bruxelas. Em seguida, os técnicos continuarão as reuniões durante a semana, para tentar acelerar a barganha final.

No jantar na Comissão Europeia, os comissários de Agricultura e de Comércio convidaram os ministros de Relações Exteriores do Mercosul, mas deixaram de fora outros ministros do bloco do Cone Sul que se encontram em Bruxelas, como os ministros de Agricultura e Indústria da Argentina, e o novo ministro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Jorge de Lima, causando certa irritação no bloco.

Hogan chegou a brincar, dizendo que a UE talvez fosse servir carne irlandesa para os representantes do Mercosul. Hogan é originário da Irlanda, país que mais faz campanha contra o acordo birregional, precisamente por causa do temor de perder fatias do mercado de carne bovina.

Uma delegação de pecuaristas irlandeses voltou a denunciar o que diz ser impacto negativo da negociação, estimando que o preço da carne bovina poderá cair 16% e custar € 5 bilhões aos produtores europeus.

Fonte: Valor Econômico – 30/01/2018

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