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Unica critica IPI menor para carro elétrico

06 de Fevereiro de 2018

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A indicação dada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) de que o governo deve reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 25% para 7%, tanto para carros elétricos como para os híbridos, comemorada por fabricantes que desenvolvem essas tecnologias, não foi bem recebida pelas usinas de etanol.

Para Elizabeth Farina, presidente da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), essa medida seria "contraditória" em relação aos objetivos do recém-sancionado RenovaBio, marco regulatório criado para elevar a participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.

"Primeiro, o presidente sanciona o RenovaBio, que indica qual vai ser o papel dos biocombustíveis na matriz do Brasil até 2030, o que vai demandar retomada de investimentos em capacidade de produção. No dia seguinte, aparece nos jornais que o governo vai desonerar o carro elétrico, o que aponta na direção de reduzir a participação dos biocombustíveis. Como política pública de orientação de investimentos, é no mínimo difícil de compreender", diz Farina, que passou o último ano acompanhando as discussões que culminaram no RenovaBio.

Nada, porém, que ameace o setor, avalia. "Isso não quer dizer que vai deixar de se apostar no biocombustível, porque temos muitas vantagens em termos de custo, de domínio de tecnologia", ponderou a presidente da associação que reúne usinas responsáveis por cerca de 90% da cana processada no país.

A Unica deve continuar focada neste ano no acompanhamento do RenovaBio, que passará agora pela fase de regulamentação, com a definição das metas de emissão de gases de efeito estufa. Afinal, o grau de incentivo aos investimentos no setor sucroalcooleiro dependerá em grande parte dessas metas, segundo Farina.

A entidade também participa de outros debates. Tem feito périplos por Brasília para discutir com os ministérios as diretrizes do Rota2030, que ainda está sendo elaborado no governo para substituir o Inovar-Auto.

Desde o início das discussões a respeito do RenovaBio, setor privado e membros do governo têm defendido que deve haver um alinhamento dele com o programa para a indústria automotiva. Contudo, mesmo que o objetivo da desoneração dos carros elétricos e híbridos também seja o de reduzir emissões - que é o eixo do RenovaBio - a Unica ainda vê incongruência.

O argumento do setor é que o carro flex é uma solução "ambiental" já desenvolvida pela indústria brasileira e que tem um nível de emissões de gás carbônico menor que os veículos elétricos que rodam na Europa. O cálculo que se faz é das emissões desde a geração da energia elétrica - que na Europa depende em grande parte do carvão - até as emissões do veículo.

A realidade brasileira, porém, é diferente. Atualmente, 81% da capacidade instalada de geração de energia do país é de fontes renováveis, somando as fontes hidráulica, a biomassa, eólica e solar, segundo dados mais recentes do Ministério de Minas e Energia (MME).

Farina reconhece a diferença, mas defende que, "na margem, o crescimento da demanda por energia vai exigir participação maior de fósseis, como o gás". De fato, nos últimos leilões de contratação de energia realizados em 2017, foi alta a participação de termelétricas a gás, que estarão em operação a partir de 2021 e 2023. Com isso, a fatia dos renováveis a partir de então tende a diminuir.

"Se é para estimular o carro elétrico, tem o carro híbrido, que é elétrico. Então, para sinalizar consistência [com o RenovaBio], eu daria uma desoneração maior para o híbrido flex", defende ela.

Ainda não há veículos híbridos flex nas linhas de montagem. A única fabricante que anunciou o desenvolvimento de um modelo desses é a Toyota. Hoje, existem só seis modelos híbridos, todos de luxo, e são abastecidos apenas com gasolina.

Fonte: Valor Econômico - 06/02/2018

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