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“Venda direta de etanol não é favorável ao Brasil”, diz Ex-Ministro Maílson da Nóbrega

14 de Dezembro de 2018

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O Ex-Ministro da Fazenda do governo Sarney, o economista Maílson da Nóbrega concedeu entrevista exclusiva à TV UDOP na última semana onde destacou não ser favorável à venda direta de etanol das usinas para os postos. O assunto, que veio à tona com a greve de caminhoneiros do primeiro semestre de 2018, divide, ainda, a opinião de inúmeros representantes do setor da bioenergia.

Nesta quinta-feira (13), documento assinado pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis liberou a venda direta, mas ressaltou que a mesma depende, ainda, da solução de questões tributárias pelos Estados e União.

“Isto (a venda direta de etanol) poderá gerar um descontrole, um prejuízo ao funcionamento normal dos mercados. A venda direta aos postos não substitui com a mesma eficiência a centralização nas distribuidoras, que fazem as misturas, transportam em caminhões que têm vários compartimentos que permitem suprir os postos não apenas de etanol, mas de diesel, de gasolina, fazem a aditivação, a homogeneização do produto e além disso, cerca de 20% da distribuição de etanol no Brasil é feita por dutos ou navegação de cabotagem, as destilarias e as usinas não teriam esta capacidade”, destacou o economista.

Para o CEO da Trading SCA, Martinho Ono, a medida é muito complexa e realmente divide o setor. “Existe muita divergência de pensamento e um pequeno grupo de usinas, especialmente da região nordeste defende essa bandeira, eu trago a experiência de distribuição, trago a experiência agora desse lado, e particularmente não vejo que a população em particular tenha esse benefício que está sendo propagado”, destacou Ono.

Ainda segundo o representante da SCA, “antes que esta medida venha a ser implementada de fato, é preciso rever a questão tributária que é, muito grande, e que precisa ser verificada porque tanto a gente que produz ou distribui ela tem essas responsabilidades e na medida que esse direito de comercialização seja transferido para a cadeia produtora, logicamente a responsabilidade pelo recolhimento dos impostos também tem que ser alterada, o que hoje a legislação não permite.

Então, sem entrar em muitos detalhes, eu particularmente acho que há muita complexidade em uma usina assumir a responsabilidade do suprimento direto, passando pela área de crédito, passando pela área de cadastro, pelas contas a receber, assim como pela área logística que dificulta muito o trabalho operacional, sem trazer o benefício de fato em termos de lucratividade e do benefício ao consumidor”.

Outro ponto destacado pelo Ex-Ministro Maílson da Nóbrega é com relação a logística de distribuição de combustíveis, que poderia ser afetada pela medida. “Uma questão ainda mais séria é que como a gente sabe, nós temos 42 mil postos de gasolina, é uma logística complexa para atender tudo isso. E a produção se concentra no sul do país, como fazer para abastecer a Amazônia, regiões do nordeste que não são produtoras de etanol como do sertão”, questiona.

O ex-ministro também enumera os problemas de sustentação dos estoques. “Como se produz (etanol) na metade do ano, há que se estocar o etanol para o período em que não há moagem de cana e produção do álcool hidratado e anidro. E quem faria isso? Hoje isso é feito pelas distribuidoras, não acredito que as empresas produtoras de etanol teriam essa capacidade ou esse interesse”.

“Esta ideia que nasceu no CADE, foi posta em discussão pela ANP, ela é muito bem-intencionada, o seu objetivo é evitar gargalos logísticos, mas na verdade vai gerar gargalo logístico. Ao contrário do que se pensa essa medida vai gerar um jogo de soma negativa, isto é, em que todos os envolvidos perderiam: as usinas, as destilarias, o consumidor e a distribuidora. Portanto é hora de esquecer esse assunto, e preservar o esquema que tem funcionado a contento há vários anos. Nunca mais se viu no Brasil faltar etanol, nunca mais se viu no Brasil crise de suprimento, porque o sistema funciona razoavelmente bem”, finalizou Maílson da Nóbrega.

Confira aqui a entrevista completa.

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