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Visão Agri: Guerra comercial e supersafra

13 de Agosto de 2018

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O bom momento do agronegócio brasileiro coincide com a instalação de uma guerra comercial entre China e EUA que impactará toda a dinâmica do mercado internacional de soja, que inicia o novo ano-safra em setembro. Na cafeicultura, o Brasil também comemora uma colheita favorável e produtores, exportadores e instituições financeiras intensificam o uso de instrumentos que proporcionam lucratividade e proteção contra oscilações de preços. E todos os agentes do agronegócio enfrentam a volatilidade cambial causada pela incerteza eleitoral e fiscal e pelo aperto monetário nos EUA.

Este foi o ambiente analisado durante a terceira edição da conferência Visão Agri, realizada em 7 de agosto, em São Paulo, no escritório da Bloomberg, em parceria com a ED&F Man Capital Markets.

“A guerra comercial não é mais expectativa, é realidade”, disse Sol Arcidiácono, responsável pelas operações da ED&F Man na Argentina. Segundo ela, o mercado de grãos teve um semestre para assimilar a nova realidade desde que o presidente americano, Donald Trump, fez as primeiras ameaças e, neste ciclo comercial que se inicia no mês que vem, a China importará uma parcela ainda maior da safra de soja do Brasil, chegando a mais de três quartos do total. Enquanto isso, a Argentina comprará mais soja dos EUA e Paraguai para processamento e exportação, com vistas ao mercado chinês. Para a especialista, com a tensão entre China e EUA, é possível que até o Brasil passe a comprar soja americana.

Durante a palestra, Sol Arcidiácono ressaltou a expansão do complexo de esmagamento de oleaginosas em Rosário e o avanço logístico do Brasil no escoamento de uma gigantesca safra de grãos, mesmo com a greve dos caminhoneiros. Segundo ela, essa infraestrutura deu suporte aos preços. “Foi conseguido com eficiência logística, produtiva e comercial do Brasil.”

No mercado de café, onde a atual safra brasileira é a de melhor qualidade em anos, chama atenção o aumento da sofisticação da cadeia de negociação, com presença maior de instituições financeiras e instrumentos que permitem ao produtor aproveitar momentos em que as condições estão atraentes e não ficar restrito aos períodos em que precisa vender.

“A venda no mercado spot vai diminuir ainda mais e migrar para a ferramenta de negociação antecipada porque possibilita a venda por oportunidade”, disse Tiago Ferreira, responsável pela operação de café da EDF. Ele espera ampliação da participação de seguradoras e fundos de investimento no mercado, não só com posições especulativas, mas oferecendo capacidade de financiamento, propondo fontes alternativas de crédito, conexão com o mercado internacional e agregando valor para o produtor.

Paralelamente, a maior presença de fundos e outras instituições financeiras no mercado de café também exacerba as oscilações dos preços, exigindo que o produtor se mantenha informado e atuante para aproveitar esses movimentos, explicou Ferreira.

O pano de fundo de depreciação cambial, corrida eleitoral e o ritmo consistentemente aquém das expectativas na atividade econômica também foi tema da conferência.

Para o analista sênior de pesquisa de mercado da ED&F Man, João Santucci, a economia dos EUA, com pleno emprego, retirada de estímulos monetários e crescimento da produção industrial, dá suporte ao dólar, que se valorizou não apenas em relação ao real, mas contra a maioria das moedas de países emergentes. No entanto, a moeda brasileira também vem sofrendo influência do quadro eleitoral.

 Santucci afirmou que, do ponto de vista dos investidores, as pesquisas de intenção de voto preocupam por refletirem maior aceitação de discursos populistas de esquerda e direita, que atrapalhariam a implementação de reformas essenciais para conter a alta da dívida pública.

Por outro lado, as alianças partidárias acertadas recentemente favorecem o chamado centro, porque o horário eleitoral gratuito na televisão é especialmente importante para a parcela do eleitorado que ainda não escolheu candidato. “A guerra agora é para conquistar indecisos”, disse Santucci, apontando que, em 2014, 49% decidiram o voto durante o período oficial de campanha e 13% no dia da eleição.

Fonte: Bloomberg - 10/08/2018

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